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Chão Urbano

Chão Urbano ANO V Nº01 Jan e Fev 2005

01/01/2005

Integra:

ANO V  Nº 01 Jan e Fev 2005

 

Laboratório Redes de Infraestruturas e Organização Territorial - IPPUR/UFRJ  

 

      Coordenação Mauro Kleiman  

 

       Equipe:  Caroline Pires Cardoso, Rebeka Braune e Simone Cavalcanti do Amaral.

 

 

O movimento de expansão da metrópole do Rio de

Janeiro para “fora” e para “dentro”

 

 

O conhecido quadro da crise econômica, conjugado à um paradoxal vigor de persistência de trabalho e atividade, tem desenhado movimentos na metrópole do Rio de Janeiro que devem ser objeto de observação e análise. Estes movimentos, que tem acontecido, alguns deles, por vezes, de maneira aparentemente muito rápida; e outros consolidando-se mais lentamente, mostram a formação de uma metrópole expandida alcançando uma nova escala. Deve-se perceber que a consolidação de certos vetores de expansão, tão somente ainda tendenciais nos anos 70/80, assim como o aparecimento de novos vetores, proporciona algo como a construção de uma megalópole fluminense. Nesta menos que um continuum urbano, pode-se pensar numa rede de cidades que articulam-se e complementam-se, mas tendo a cidade do Rio de Janeiro como pólo central. Neste, por seu turno, pode-se observar igualmente apesar de certa estabilidade populacional, fortes movimentos sócio-espaciais, com novas ocupações de certas áreas; consolidação e adensamento de outras. O eixo de crescimento populacional mais importante, vamos assim dizer para “fora”, trata-se do vetor expansão muito forte dos municípios da chamada Região dos Lagos (dados da Tendência Demográfica do IBGE) alguns dos quais recebem royaltes como produtores de petróleo (como Rio das Ostras com crescimento de 8, 07%). Nesta região o adensamento é atribuído à “busca de qualidade de vida”, principalmente por aposentados e “fuga da violência urbana” (“Violência cria fluxo migratório no Estado do Rio” – O Globo, 30/12/04). Essa população de aposentados, em geral, já freqüentava as cidades da região nas férias, feriados e fins-de-semana, como fazem outros milhares de pessoas. Entendo que este fenômeno, de ir e vir, é propiciado pelo transporte automotivo - ônibus e principalmente carros, que fazem o papel de “elástico” – expandem a metrópole nos fins de semana, feriados e férias – e retraem-na nos demais períodos. Mas ao freqüentarem as cidades da região as pessoas como que “descobrem” outro tipo de vida, uma certa tranqüilidade em relação a dita violência urbana do Rio, e parte permanece ou cria a vontade de quedar-se na área. O fenômeno da elasticidade, propiciado pelo automóvel, permite pensar em limites não-rígidos quando fala-se de metrópole do Rio de Janeiro; e quando da fixação e crescimento populacional, com seus efeitos de adensamento edilício, comércio, serviços, escola, lazer, etc. marca, a meu juízo, uma expansão metropolitana em processo. O mesmo sentido de “elasticidade” da metrópole também ocorre na direção das cidades serranas próximas ao Rio (Petrópolis, Teresópolis, Friburgo), mas os dados do IBGE não apontam crescimento para esta área, havendo uma espécie de estagnação populacional, e mesmo decréscimo nas cidades serranas no Norte Fluminense (mais longe do Rio, como Macuco, Trajano de Morais e Santa Maria Madalena). Nas cidades serranas mais próximas pode-se perceber, no entanto, crescimento de condomínios residenciais (a maior parte de terrenos urbanizados para construção de casas, mas também conjunto de apartamentos com lazer, serviços e shoppings) dirigidos para uma camada de maior renda (“A Serra Engarrafou” – O Globo 09/01/05); conjugado num outro extremo, com um forte crescimento de favelização (85% a mais de favelas, de 1991 a 2000, em Teresópolis, por exemplo, segundo o IBGE). Numa outra direção tem-se um vetor de expansão na região Sul-Fluminense. Este vetor apresenta menor força que o vetor Norte da Região dos Lagos, e cidades do petróleo (Macaé, Campos e seu entorno), mas que a meu juízo, deve ser observado com maior atenção, quando analisa-se sua maior articulação com a expansão / densificação da enorme zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, e tem uma porção industrializada. Este vetor Sul-Fluminense tem, de fato, uma área de lazer – a chamada Costa Verde, de Mangaratiba à Paraty, passando por Angra dos Reis – com cidades entre as de grande crescimento, segundo o IBGE, cujo potencial de expansão parece-me muito importante, pois está articulada com a densificação em curso, e ainda com um processo de crescimento que já irá intensificar-se, de toda a área oeste do Rio de Janeiro, tanto na sua porção que vem  sendo ocupada por camadas de maior renda (Barra, Recreio, parte de Jacarepaguá) como na porção ocupadas por camadas de renda mais baixa (Bangu), Santa Cruz, Campo Grande). Esta enorme zona ainda tem uma ocupação-densificação relativamente baixa em relação ao seu potencial. A Barra da Tijuca com grande expansão nos últimos 20 anos do comércio, serviços, lazer, etc., e das edificações construídas abriga ainda apenas 90 000 habitantes (segundo o Censo de 2000), e embora Jacarepaguá já tenha 500 000 habitantes continua ser o bairro que mais cresce no Rio de Janeiro, tendo potencial de densificação se receber infra-estrutura de esgoto, água e transportes: Recreio, Vargem Grande e Pequena ainda tem ocupação inicial; e os bairros de camadas mais pobres tem ocupação horizontal, totalmente plena e com potencial de densificação e verticalização. Pode-se pensar que a zona oeste nos próximos 50 a 100 anos continuará expandindo-se muito, e as cidades da Costa Verde serão certamente pontos de ainda maior atratibilidade para o lazer de fim de semana e férias da enorme população que viverá nesta área e de fixação de moradores, tal qual acontece no vetor da Região dos Lagos. O outro movimento deste vetor de expansão localiza-se no Vale do Paraíba com a instalação e desenvolvimento do pólo automotivo de Porto Real, Resende (Pegeout e Wolkswagem) e o incremento da CSM em Volta Redonda. Este pólo industrial articula-se com o Porto de Sepetiba, que tem grande potencial de expansão e para qual converge o fluxo ferroviário, e o futuro anel viário do Rio que ligará as rodovias que articulam a metrópole com o Norte, Minas Gerais – Brasília e São Paulo e Sul do país (“Estado conclui estudo sobre anel viário no Rio” – O Globo 10/01/2005) com o Porto. Isto indica um possível deslocamento de atividades de serviço e comércio e fixação de população na área do porto que situa-se em Itaguaí, município imediatamente vizinho à Zona Oeste do Rio, podendo-se pensar no seu forte adensamento até o final do século XXI. No outro movimento de expansão da metrópole, aquele que estamos chamando de movimento para “dentro”, apesar de certa estabilização da população do município do Rio de Janeiro em cerca de 5.800.000 habitantes, pode-se notar deslocamentos importantes. Primeiro aquele em direção à Oeste como já assinalamos. A ocupação da baixada de Jacarepaguá – Barra, Recreio, Jacarepaguá, não é importante apenas como domicílio residencial, mas principalmente por apresentar-se como pólo de comércio, serviços e entretenimento. Este pólo tornou a área, em duas décadas, por certo, um novo subcentro, mas carregado de uma nova centralidade para a metrópole que o diferencia dos sub-centros existentes – a zona sul e Méier/Madureira. Isto porquanto, como já previa Lúcio Costa, faz o traço de união entre os subúrbios, a Baixada Fluminense, e a zona sul carioca, com atratibilidades em todas as dimensões econômico-sociais – emprego, escolas, comércio, serviços, lazer...para toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Além desta área da baixada de Jacarepaguá, cresce e crescerá muito neste século XXI; a vasta área à oeste de ocupação de renda mais baixa – Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, que estarão mais próximos da primeira área com a abertura do túnel Da Grota Funda, e por outro lado da Baixada Fluminense com a construção do anel viário do Rio de Janeiro. O segundo eixo importante trata-se da persistente ocupação, densificação e verticalização de áreas de camadas de menor renda no interior do núcleo da metrópole. Pode-se anotar este fenômeno tanto com a consolidação de antigas favelas como bairros populares, através da regularização de propriedade ( “Favela do Rio ganha primeiras escrituras” – O Globo, 20/12/04); como com a notória densificação e verticalização nas favelas da Leopoldina (complexo do Alemão, complexo da Maré) e da Zona Sul (Rocinha, Vidigal); e aquelas acompanhando a expansão à oeste (Rio das Pedras). Outro fenômeno com relação à áreas pobres trata-se da recente ocupação de galpões de fábricas desativadas, ao longo da Av. Brasil, por famílias em fuga de favelas onde impera a violência do tráfico de drogas. Este fenômeno chama a atenção sobre a possibilidade de reconversão da Av. Brasil de zona industrial para residencial, ainda mais que contém grandes áreas sem utilização. Um rezoneamento estará em discussão e poderão surgir novas aglomerações residenciais ao longo da via, densificando este eixo da metrópole (“Avenida Brasil: novo zoneamento em debate” – O Globo, 13/01/05). Deve-se assinalar que mesmo no centro do núcleo da metrópole, temos terrenos vazios na Cidade Nova e ao longo de toda Av. Presidente Vargas, e na Zona Portuária, que permitiriam uma reocupação residencial-comercial da área. Num outro ciclo, tem-se a densificação da Baixada Fluminense com parte sendo “modernizada” com introdução de Shopping centers, condomínios fechados...assim como a densificação de São Gonçalo como área popular, e a consolidação de Niterói como extensão da área nobre do núcleo da metrópole. Temos assim, apesar da crise sócio-econômica do Rio de Janeiro, uma metrópole em movimento com uma escala e fluxos totalmente diferenciados do que quando na década de 60/70 começa-se a refletir sobre o fenômeno. Trata-se de algo novo, ainda não devidamenteconhecido e analisado, induzindo a necessárias reflexões para sua compreensão e manejo.

Mauro Kleiman

 

 

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