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Chão Urbano

Chão Urbano ANO I Nº 12 Setembro 2001

01/09/2001

Integra:

 

ANO I Nº12 Setembro 2001

 

                                                                      Laboratório Redes de Infraestruturas e Organização Territorial - IPPUR/UFRJ  

 

Coordenação Mauro Kleiman  

 

Equipe: Genivaldo Santos, Leriane Romão,Nina Elisa da Silva, Sonia Wagner, Vanessa Pereira

 

 

Opinião

 

 

Infra- estrutura urbana sofre cortes no saneamento mais uma vez!

 

  Mais uma vez anunciam-se cortes no saneamento. Reivindicando R$ 488 milhões para a área, o secretário de Desenvolvimento Urbano Ovídio de Angelis prevê redução das obras em andamento caso seja mantido o teto apresentado pelo Planejamento (“ Investimento em saneamento será reduzido” – O Globo 31/08/01). O limite concedido para o saneamento ficou em R$ 200 milhões, portanto menos da metade do solicitado para dar seguimento às obras de maior importância e necessidade para as cidades brasileiras. A contenção de gastos , certamente refletir-se-á mais adiante em custos de tratamento de saúde e aumento de mortalidade, principalmente infantil, que em muito ultrapassarão esta redução. A opção pelo ajuste contábil vai cobrar uma conta social altíssima no futuro.

 

 

                                                                                           Dinâmica do Mercado Imobiliário

 

Estado, incorporações imobiliárias e desenvolvimento urbano

 Preservação de parte de bairros e inovações comerciais, denotam importantes movimentos na dinâmica imobiliária, podendo modificar ou acentuar eixos de desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro. A preservação de parte dos bairros, através da área de proteção ambiente cultural (Apac) tem tido grande repercussão desde seu lançamento atingindo o Leblon.( ). A análise jornalística contudo limita-se a registrar o impacto mais imediato sobre os moradores e proprietários de imóveis e os incorporadores com projetos para estas áreas objeto de intervenção , não percebendo suas conseqüências mais amplas sobre a estrutura urbana do Rio de Janeiro. Uma das conseqüências mais importantes que podemos apontar trata-se da indução que o Estado faz para o incremento da construção civil residencial na direção de outras áreas que não aquelas agora objeto da Apac ou do mecanismo de mecanismos de * de crescimento limitado (“para cada imóvel que for desenvolvido e ficar fora da área de proteção da Apac, só poderá ser construído outro com mesma altura e número de unidades semelhante ou inferior”) – “Jardim Botânico pode ter crescimento limitado” (O Globo 16/08/01). Assim restringindo as possibilidades construtivas em determinados bairros propagam-se seu crescimento onde existiam possibilidades para tal “empurrando-o”, para a Zona Oeste, aí compreendendo a Barra, o Recreio, Jacarepaguá, Campo Grande, Santa Cruz, Bangu. Na verdade trata-se de reforçar tendência já existente (essa é a região do Rio que mais cresce em população e em imóveis) mas que exatamente por de seu vertiginoso desenvolvimento não estão sendo amparados da devida infra-estrutura de saneamento, e os transportes tem apresentado certo entrave a uma alavancagem ainda mais intensa do seu potencial imobiliário. Apregoa-se um “novo modo de vida” na região com qualidades “perdidas”. em outras zonas da cidade o verde, as praias limpas, os lagos em plena mata Atlântica, rodeado pela deslumbrante  natureza, e apenas 7 minutos das maravilhosas praias do Recreio... (anuncio de lançamento do condomínio Praça de vargem Grande), que pela ausência de infra-estrutura, antes de serem plenamente vivenciados já estão comprometidos (“A lenta agonia das lagoas da Barra da Tijuca”- O GLOBO 13/08/01). Além dos aspectos de saneamento que atingem a qualidade ambiental da região o crescimento não tem sido acompanhado por soluções de prestação de acessibilidade por transportes de massa, incrementando-se apenas soluções viárias parciais. A saída para os incorporadores está em criar inovações comerciais como maneira, de apesar da perda da qualidade de vida na região estar evidenciando-se continuar a atrair compradores para seus empreendimentos. Assim verifica-se que os incorporadores tendem agora a intensificar a internalização ambiental e de estrutura de lazer aos empreendimentos ( “muito além do playground”- JB 18/08/01). Trazem-se para dentro dos condomínios fechados áreas de lazer com campo de golfe, jogos aquáticos, pistas de cooper, enfim clubes inteiros. Na Barra lança-se um empreendimento que contará com um parque aquático que terá “biribol, raias semiolímpicas, jatos d´água, escorregador, toboágua, uma pequena ilha e ponte” ( JB 18/08/01). Outros incluem academias de ginástica – fitness center, hidromassagem ( JB 18/08/01 ). Temos então uma crescente intimização da vida, transferindo-se sem fugir da esfera pública para a privada, constituindo principalmente nas cidades que irá certamente acentuar-se nos seus contrastes com os bairros com ambiência cultural protegida. 

 

 

 

 

Vilas Cariocas: do renascimento ao novo Banimento

 

As vilas, uma forma das mais interessantes apesar do ponto de vista arquitetônico e urbanístico quer pelo lado da sociabilidade, sem que tenha conhecimento mais claro das razões que levaram a tal ato, acabam de ser novamente banidos do cenário habitacional carioca. Reabilitadas como possibilidade  construtiva no final dos anos 80 (do século XX ) e aparecendo como alavanca de ocupações de terrenos antes abandonados, principalmente em Jacarepaguá, subúrbios e Zona Oeste, constituindo-se um eixo em expansão da incorporação imobiliária, foi agora “implantado na administração *, que carretou no projeto vilas cariocas, da secretaria de habitação. ..A construção de novas vilas ,ficam de fora ainda do pacotão de Peus que a secretária de urbanismo pretende elaborar nos próximos meses (“Paz sepultada pela legislação urbana – JB 11/08/01). Nas áreas citadas acima, onde vinham sendo construídas (Vide antigo em Chão Urbano n-º * ) as vilas Estavam desempenhando importante papel urbanístico por um lado por fazer os proprietários de terrenos deixados “ao *” para futura especulação colocarem–os no circuito habitacional e por outro bloqueando a formação de novas pequenas favelas nestes terrenos prática muito comum nestes bairros. Além do que evidentemente trazer de volta uma forma de habitação e sociabilidade, com qualidade de vida perdida nas “regiões” da cidade. As vilas, em geral construídas e comercializadas por pequenos incorporadores imobiliários, estariam incomodando interesses de grande porte?

Mauro Kleiman

 

 

 

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