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Chão Urbano

CHÃO URBANO ANO XXI Nº2 MARÇO/ABRIL DE 2021

08/03/2021

Integra:

 

Chão Urbano ANO XXI Nº2 MARÇO/ABRIL DE 2021

 

Editor
Mauro Kleiman
Publicação On-line
 Bimestral

Comitê Editorial
Mauro Kleiman (Prof. Dr. IPPUR UFRJ)


Márcia Oliveira Kauffmann Leivas (Dra. Em Planejamento Urbano e Regional) Maria Alice Chaves Nunes Costa (Dra. Em Planejamento Urbano e Regional) – UFF Viviani de Moraes Freitas Ribeiro (Dra. Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ) Luciene Pimentel da Silva (Profa. Dra. – UERJ) Hermes Magalhães Tavares (Prof. Dr. IPPUR UFRJ) Hugo Pinto (Dr. Em Governação, Conhecimento e Inovação, Universidade de Coimbra – Portugal)

Editora Assistente Júnior
      Julia Paresque e Gabriela Hafner 
 IPPUR / UFRJ
Apoio CNPq

LABORATÓRIO REDES URBANAS LABORATÓRIO DAS REGIÕES METROPOLITANAS

Coordenador
Mauro Kleiman
Equipe
Julia Paresque e Gabriela Hafner 
Pesquisadores associados

André Luiz Bezerra da Silva, Audrey Seon, Humberto Ferreira da Silva, Márcia Oliveira Kauffmann Leivas, Maria Alice Chaves Nunes Costa, Viviane de Moraes Freitas Ribeiro, Vinícius Fernandes da Silva, Pricila Loretti Tavares.

 

ÍNDICE

O ESPAÇO URBANO DE CRUZ ALTA / RS: REFLEXÕES E ANÁLISE DA inter-relação existente entre praças, usuários e o entorno urbano baseado nos aspectos físicos, ambientais e comportamentais.

 

 

 

O ESPAÇO URBANO DE CRUZ ALTA / RS: REFLEXÕES E ANÁLISE DA inter-relação existente entre praças, usuários e o entorno urbano baseado nos aspectos físicos, ambientais e comportamentais

 

 

Igor Norbert Soares

Mestre em Engenharia – UPF

Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ

Rua Lulu Ilgenfritz, nº 480, Bairro São Geraldo – Ijuí/RS – Brasil

E-mail: igor.soares@unijui.edu.br

 

Marisandra da Silva Casali

Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ

Rua Lulu Ilgenfritz, nº 480, Bairro São Geraldo – Ijuí/RS – Brasil

E-mail: Marisandra.casali@unijui.edu.br

 

Tarcisio Dorn de Oliveira

Doutor em Educação nas Ciências – UNIJUÍ

Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ

Rua Lulu Ilgenfritz, nº 480, Bairro São Geraldo – Ijuí/RS – Brasil

E-mail: tarcisio.oliveira@unijui.edu.br

 

Resumo

A pesquisa estuda os conflitos existentes no meio urbano em que estão inseridas as praças, investigando de que forma estes influem na circulação, uso e acessibilidade deste ambiente. A praça é um elemento de grande importância espacial, histórica, social e ambiental, configurando-se como espaço vital para os acontecimentos da vida pública e melhoramento da ambiência urbana. O estudo foi realizado na cidade de Cruz Alta – RS, onde não há publicações sobre praças com a abrangência e o enfoque proposto, apesar da existência de diversas linhas de pesquisa em muitas cidades do país e do mundo a cerca deste assunto. A idéia deste estudo é trabalhar com praças centrais e vicinais, fazendo um cadastro de cada um desses espaços da cidade a fim de gerar um pré-diagnóstico das praças de Cruz Alta. Foi realizado um estudo de caso em duas praças da cidade, analisando aspectos físicos, ambientais, de uso e acessibilidade. Foram realizadas pesquisa bibliográfica sobre o tema e pesquisa de campo com observações dos aspectos físicos e de entorno de ambas as praças, medições ambientais e estudo sobre os usuários através de mapas comportamentais e questionários. Os resultados irão contribuir para um melhor entendimento das características das praças de Cruz Alta, além da relação praça – usuário, gerando informações que venham subsidiar futuras intervenções nos espaços analisados e em outras regiões.

Palavras-chave: Espaço Urbano. Praças. Usuário. Praça. Cruz Alta.

 

Resumen

La investigación estudia los conflictos existentes en el medio urbano en que están insertadas las plazas, investigando de qué forma estos influyen en la circulación, uso y accesibilidad de este ambiente. La plaza es un elemento de gran importancia espacial, histórica, social y ambiental, configurándose como espacio vital para los acontecimientos de la vida pública y mejoramiento del ambiente urbano. El estudio se realizó en la ciudad de Cruz Alta - RS, donde no hay publicaciones sobre plazas con el alcance y el enfoque propuesto, a pesar de la existencia de diversas líneas de investigación en muchas ciudades del país y del mundo a cerca de este asunto. La idea de este estudio es trabajar con plazas centrales y vecinas, haciendo un catastro de cada uno de esos espacios de la ciudad a fin de generar un pre-diagnóstico de las plazas de Cruz Alta. Se realizó un estudio de caso en dos plazas de la ciudad, analizando aspectos físicos, ambientales, de uso y accesibilidad. Se realizaron investigaciones bibliográficas sobre el tema e investigación de campo con observaciones de los aspectos físicos y de entorno de ambas plazas, mediciones ambientales y estudio sobre los usuarios a través de mapas comportamentales y cuestionarios. Los resultados contribuirán a un mejor entendimiento de las características de las plazas de Cruz Alta, además de la relación plaza - usuario, generando informaciones que venir a subsidiar futuras intervenciones en los espacios analizados y en otras regiones.

Palabras-clave: Espacio Urbano. Cuadrados. Usuario. Square. Cruz Alta.

 

Abstract 

The research studies the existing conflicts in the urban way where the squares are inserted, investigating that it forms influence the circulation, use and accessibility of this environment. The square is an element of great space, historical, social and ambient importance, configuring itself as vital space for the events of the public life and improvement of the urban environmental. The study was accomplished in the city of Cruz Alta - RS, where there are no publications on squares with the inclusion and the proposed focus, in spite of the existence of several research lines in many cities of the country and of the world the about of this subject. The idea of this study is to work with central and local squares, making a register of each space of leisure of the city in order to generate a pré-diagnosis of Cruz Alta squares. A case study was accomplished at two squares of the city, investigating aspects physical, environmental, of use and accessibility. They were accomplished bibliographical research on the theme and field research with observations of the physical aspects of the squares and I spill, environmental measurements and the users investigation through maps of behavior and questionnaires. The results will contribute to a better understanding of the characteristics of Cruz Alta squares, besides the relationship square - user, generating information to come to subsidize future interventions in the analyzed spaces and in other areas. 

Keywords:  Urban Space. Squares. User. Square. Cruz Alta

 

Introdução

O espaço urbano é por excelência um confronto de interesses, de processo histórico, de definição dos direitos (do indivíduo e da coletividade), sendo permanentemente escrito e reescrito na arquitetura da cidade. Mascaró (1996) sinaliza que são muitos os fatores que interferem na relação entre o edifício e o espaço livre, entre arquitetura e cidade; dentre eles estão fatores econômicos, normativos, sociais, culturais, geográficos e ideológicos o que nem sempre é esquematizável fazendo com que o homem transforme o meio assim como o meio o transforma. O homem tem a necessidade de se relacionar com o meio em que vive, o que muitas vezes implica desde o despertar de estímulos perceptivos até a inibição total de um ato.

Miranda (2005, p. 80) observa que a praça de uma cidade diz muito sobre sua gente, sobre sua história, permitindo a inclusão e o encontro entre pessoas, além de representar um espaço de sociabilidade promovendo as relações sociais que se estabelece através de momentos de lazer ou da simples informalidade dada ao transeunte. Nesse sentido Oliveira (2006, p. 7) complementa que esses espaços são pontos de referência das comunidades desde o surgimento das aglomerações urbanas e passam por transformações significativas em relação à sua caracterização física e funcional, tanto internamente quanto em relação ao entorno em que está inserido.

O modo de vida da sociedade e a funcionalidade da cidade têm sofrido profundas transformações devido às mudanças que os assentamentos humanos provocam no ambiente, gerando reflexos na estrutura física e na qualidade da ambiência das cidades. Esse contexto urbano de transformações reflete-se na caracterização das praças, que desde o surgimento dos aglomerados urbanos, passam por transformações significativas através de suas estruturas físicas, funcionais e tanto internamente quanto no entorno em que estão inseridas. A história mostra que a praça sempre teve um papel importante na cidade, sendo palco para acontecimentos de cunho político, social, de lazer ou mesmo de serviços, como ainda hoje acontece em muitas cidades.

Nesse processo de transformação insere-se também o entorno desses espaços, como por exemplo o sistema viário: que surge com as primeiras cidades e seu conceito de uso vai sendo reformulado à medida que o automóvel passa a fazer parte da paisagem urbana. Assim, a principal função do sistema de circulação da cidade é possibilitar a movimentação de pessoas e bens, haja visto, que as ruas são a estrutura do plano urbano e possuem dupla função: de vias de tráfego e de meio de acesso às moradias. Sabe-se que nas praças públicas acontecem as relações sociais de uma cidade, essenciais para o desenvolvimento humano e também são lugares muito procurados pela população, seja pelo caráter social, ambiental ou psicológico, haja visto, que são locais de acontecimentos e práticas sociais, que se contrapõem à massa edificada das cidades.

Entretanto, nas últimas décadas, as cidades brasileiras vêm sofrendo com a densificação populacional nos centros urbanos que, somado ao uso crescente de veículos automotores a cada ano, gera a necessidade de espaços abertos com efeitos amenizador quanto à qualidade do ar, retenção de poeira, amenização do calor e atenuação do ruído. Além da carência de se criar espaços, verifica-se também, a necessidade de adequação dos espaços existentes, os quais em sua grande maioria não cumprem metade das funções citadas acima.

As pessoas percebem os espaços de maneiras diferentes, influenciadas por sua cultura, conhecimento e nível de sensibilidade em relação ao seu entorno e às imagens geradas ou fixadas em sua mente. O meio ambiente construído se constitui como organização de significados, fazendo parte dele os materiais, as formas, as cores e os detalhes dos edifícios que são elementos importantes de sua percepção. As praças são importantes para a população de uma cidade, seja ela de grande ou pequeno porte. Sabendo dessa importância, surgem algumas questões: Como a população que utiliza esses espaços o percebe? Quais os problemas que as pessoas encontram nesses locais? Os locais são acessíveis e seguros?

Dessa forma, o objetivo da pesquisa é investigar dentro do conjunto urbano da cidade de Cruz Alta / RS duas praças, sendo uma em contexto central e outra vicinal, analisando a inter-relação existente entre as praças, usuários e o entorno urbano, baseado nos aspectos físicos, ambientais e comportamentais.

 

Metodologia

Cruz Alta é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul que pertence à Mesorregião do Noroeste Rio-Grandense e à Microrregião de Cruz Alta. É conhecido como município do Guarani, dos Tropeiros e de Érico Veríssimo. O acesso à cidade se dá pela BR-158, no eixo norte-sul, pela BR-377, a leste, e também pela RS-342, a oeste. O município se localiza num entroncamento rodoferroviário na região centro-norte do Estado, contando com a presença de um porto seco no nordeste da cidade. A população é de 62.821 habitantes, área de 1.360,289 km² e instalado em 01/01/1939 (IBGE, 2016). A área em estudo está inserida na cidade de Cruz Alta / RS, dentro da zona urbanizada conforme mostra a figura 01.

 

Figura 01 – localização das praças analisadas – adaptado do mapa

 

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Fonte: Autores (2017)

 

            Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico desenvolvido com base em material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos, que a partir dos dados obtidos, realizou-se a análise e interpretação das informações, mesclando-as de maneira a conseguir uma maior compreensão e aprofundamento sobre o tema abordado. Em um segundo momento foram feitas visitas in loco nas áreas escolhidas para atualização e complementação dos dados existentes retirados da Prefeitura Municipal e aplicação dos questionários. Assim, foi confeccionada uma ficha cadastral para cada uma das praças gerando um banco de dados atualizado 

 

Referencial Teórico

Conforme Callai (20005), partindo do fato de que a gente lê o mundo ainda muito antes de ler a palavra, a principal questão é exercitar a prática de fazer a leitura do mundo, haja visto, que a leitura do mundo é fundamental para que todos nós, que vivemos em sociedade, possamos exercitar nossa cidadania. Ainda a autora observa, que ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades.

Nesse viés, Corrêa (2004) observa que o espaço urbano pode ser analisado como um conjunto de pontos, linhas e áreas podendo ser abordado a partir da percepção que seus habitantes onde o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado onde cada uma de suas partes mantém relações espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável. O mesmo autor salienta que as relações espaciais integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em um conjunto articulado cujo núcleo de articulação tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade sendo o espaço urbano um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente.

Para Pesavento (2005) a passagem do tempo modifica o espaço, onde as práticas sociais do consumo e da apropriação do território não só alteram as formas do urbano como também a função e o uso do mesmo espaço, descaracterizando o passado da cidade. Nessa perspectiva, a autora, salienta que todo traço do passado possui em si uma sucessão de temporalidades objetivas acumuladas, ou seja, as marcas da passagem dos anos e do seu uso e consumo pelos atores sociais que percorreram este espaço.

Ao ler o espaço, Callai (2005), constata que se desencadeia o processo de conhecimento da realidade que é vivida cotidianamente, onde constrói-se o conceito, que é uma abstração da realidade, formado a partir da realidade em si, a partir da compreensão do lugar concreto, de onde se extraem elementos para pensar o mundo (ao construir a nossa história e o nosso espaço). Nesse caminho, a autora supracitada, ao observar o lugar específico e confrontá-lo com outros lugares, tem início um processo de abstração que se assenta entre o real aparente, visível, perceptível e o concreto pensado na elaboração do que está sendo vivido.

Conforme Costella et al. (2016) as praças possuem um grande valor histórico e sua essência é constituída a partir da história que possui, de seu desenho paisagístico e conjunto urbanístico. Na antiguidade grecoromana, a praça era o espaço público de maior importância e funcionava como centro vital, tudo girava em torno da praça, era espaço referencial e marco visual na organização das cidades. Então, elas são permanentes no desenvolvimento das cidades e marcam a estrutura das mesmas representando verdadeiros nós de confluência social e são essenciais ao cotidiano da população. 

Nesse sentido, Nucci (2008) afirma que nas áreas verdes pode-se encontrar um ambiente agradável, possibilitando ao indivíduo a integração com a natureza:

 

Esses ambientes devem ser agradáveis e estéticos, com acomodações e instalações variadas de modo a facilitar a escolha individual. Devem ser livres de monotonia e isentos das dificuldades de espaço e da angústia das aglomerações urbanas. Principalmente para as crianças é fundamental que o espaço livre forneça a possibilidade de experimentar sons, odores, texturas, paladar da natureza; andar descalço pela areia, gramado; ter contato com animais como pássaros, pequenos mamíferos e insetos, etc (NUCCI, 2008, p. 109).

 

         Os espaços públicos, como compreendidos pelos cientistas sociais, são lugares de convivência que expressam estilos de vida (GIDDENS, 1997), relações de poder (LOFLAND, 1985; HANSEN, 2002). Enfim, são formas de apropriação por distintos grupos sociais, sendo, portanto, lugares segmentados e identitários, representativos da vida e da história das cidades, lugares simbólicos, característica essa mais explícita nos espaços das áreas centrais.

         Costella et al. (2016) entendem que a praça pode ser definida, de maneira ampla, como qualquer espaço público urbano, livre de edificações que propicie convivência e/ou recreação para os seus usuários.  O espaço urbano tido com precursor das praças foi a Ágora, na Grécia, pois era vista como um espaço aberto, normalmente delimitado por um mercado, no qual se praticava a democracia direta, visto ser este o local para discussão e debate entre os cidadãos (MACEDO; ROBBA, 2002).

         O conceito e o espaço da praça, existente há milênios, utilizado por civilizações de distintas maneiras, nunca deixou de exercer, ao menos na teoria, a sua mais importante função: a de integração e sociabilidade (DE ANGELIS et al, 2005). Entretanto, esses espaços se alteraram no decorrer do tempo histórico, pois “na Antiguidade, sua função era bem mais rica de significado, não se limitando a lugar de cruzamento das vias públicas, estacionamentos para automóveis ou de ponto para comércio de mercadorias as mais diversas” (DE ANGELIS et al., 2005).

As cidades, originalmente, caracterizam-se por servir de locais de troca de artigos agrícolas, artesanatos e também do poder público. Assim as cidades tornaram-se centros urbanos e espaços privilegiados para diferentes grupos sociais, como também por inúmeras instituições públicas e políticas que se formavam à medida que elas cresciam demográfica e estruturalmente.

            A formação das cidades de modo geral, é constituída de espaços construídos e espaços não construídos que são, espaços livres, espaços abertos, espaços públicos, espaços verdes. De forma geral os espaços públicos de uma cidade se dividem em duas categorias: ruas por onde circulam pedestres e veículos e, praças e parques, locais de convívio e permanência.

            Historicamente, praça é um espaço planejado e marcado para a vida pública das cidades. As praças na Idade Média e no Renascimento eram instaladas nos centros das áreas de maior densidade populacional e quase sempre com uma presença religiosa, por exemplo a igreja. Uma praça, na definição mais básica, é um lugar público acessível a todos os transeuntes, em cujo entorno visualizam-se moradas, casas comerciais e, atualmente, grandes edifícios. Pode estar situada nos centros de uma grande metrópole ou de um bairro periférico.

A praça enquanto espaço público torna-se essencial e presente em qualquer cidade europeia desde a Alta Idade Média, pois nela eram inicialmente concretizadas as relações sociais entre indivíduos de diferentes grupos e regiões. Caracteriza-se assim a origem de uma sociabilidade marcante urbana. O espaço urbano enquanto praça é compreendido não só enquanto forma residual dos espaços representados pelas quadras edificadas, mas, sobretudo como local revestido de particularidades, marcado pela circulação de veículos e de pedestres, pelos encontros, pelas manifestações coletivas e celebrações entre outras possibilidades de uso.

 

Resultados e Discussão

Para alcançar os objetivos foram estruturados questionários analisados de maneira qualitativa, buscando repetições de palavras ou expressões dos pesquisados que permitissem detectar sentimentos ou percepções em comum. Quanto ao processamento, as questões fechadas foram computadas no software estatístico SPHINX que possibilitou o tratamento estatístico adequado das informações coletadas, resultando em gráficos do tipo “pizza” para facilitar o processo de análise. Seguem os questionamentos aplicados aos entrevistados relacionados às praças General Firmino de Paula e General Rondon.

 

a) em qual bairro você mora?

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Apesar de a Praça Gal. Firmino de Paula estar localizada no centro da cidade, a maioria dos usuários provêm de outros bairros que não a região central, tanto bairros vizinhos ao centro, como Bairro Brenner e Bairro Ludke, como regiões mais afastadas, como Bairro Turíbio Veríssimo e Bairro Brum I. Nenhum dos outros bairros teve mais que 6% de entrevistados, o que reforça o uso da praça muito mais como passagem, devido a sua localização próxima a estabelecimentos bancários, prefeitura, câmara de vereadores, correios, etc. A maioria dos usuários da Praça Gal. Rondon reside no próprio Bairro Lizabel (61%), em segundo estão usuários do Centro (21%), que em grande maioria possuem parentes no bairro e o restante dos usuários vem de bairros vizinhos.

 

b) com qual frequência você costuma vir a esta praça?

 

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Fonte: Autores (2017)

 

 

            As duas praças possuem uma grande quantidade de usuários que frequentam a praça as vezes, sendo que a Praça Gal. Rondon tem índices mais expressivos, isto é, um maior número de pessoas não costuma de frequentar a praça de maneira rotineira.

 

c) quando você geralmente frequenta esta praça?

 

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Fonte: Autores (2017)

 

            Devido ao contexto em que se insere a Praça Gal. Firmino de Paula, sua utilização mais intensa acontece em dias úteis da semana, ou seja, no período em que o comércio está aberto. O percentual de uso no fim de semana não chega a ser expressivo e os usuários que a frequentam durante toda a semana são aqueles que tem algum tipo de comércio ou serviço na praça. Já a Praça Gal. Rondon apresenta seu uso mais intenso nos fins de semana, quando os usuários não estão trabalhando.

 

d) qual o período que você costuma frequentar esta praça?

 

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Fonte: Autores (2017)

 

            As duas praças possuem maior quantidade de usuários no período da tarde, seguido pelo uso na parte da manhã e tarde. A praça Gal. Firmino de Paula tem percentagem praticamente igual a da tarde, porém no período noturno, o índice é muito baixo e está sempre associado ao uso com outros períodos do dia, devido aos usuários entrevistados trabalharem na praça. A Praça Gal. Rondon não possui nenhum uso somente pela manhã ou somente à noite, os usuários que frequentam de manhã também frequentam à tarde e em sua maioria utilizam a praça como passagem, já o uso à noite não acontece devido a falta de iluminação. Os dados podem ter sofrido influência dos horários em que foram aplicados os questionários e não estarem totalmente de acordo com a realidade.

 

e) quanto tempo você geralmente permanece nesta praça?

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Fonte: Autores (2017)

 

Na sua maioria, os usuários da Praça Gal. Firmino de Paula costumam permanecer na praça de 15 a 30 minutos (48%) e de 30 minutos a 1 hora (24%), caracterizando-a como praça de curta permanência. Os usuários da Praça Gal Rondon são bem diversificados, caracterizando-a como local de curta, média e longa permanência, sem uma definição mais precisa.

 

f) com quem você costuma frequentar a praça?

 

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Fonte: Autores (2017)

 

 

Neste item há uma inversão das percentagens devido à localização de cada uma das praças. Devido a estar em uma área comercial e de serviços, na Praça Gal Firmino de Paula há um predomínio de pessoas que visitam a praça sozinha. Já na Praça Gal Rondon é justamente ao contrário, por se tratar de uma área estritamente residencial, há um predomínio de pessoas que frequentam a praça acompanhada de seus familiares. Em ambas as praças o percentual de frequência com amigos foi praticamente o mesmo (27% e 21%).

 

g) quais as atividades que você desenvolve nesta praça?

 

  1. Trazer filhos para brincar

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Observar as pessoas 

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Fonte: Autores (2017)

 

 

 

  1. Tomar sol

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Fazer caminhadas

 

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Fazer esportes

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Conversar com amigos

 

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Fonte: Autores (2017)

 

 

 

  1. Trazer cachorro para passear

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Repousar, descansar

 

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Ler, estudar

 

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Fonte: Autores (2017)

 

  1. Contemplar a natureza

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Fonte: Autores (2017)

 

 

 

  1. Lazer com a família

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Fonte: Autores (2017)

  1. Outros

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Fonte: Autores (2017)

 

Devido às duas praças terem um contexto diferente uma da outra, as atividades mais desenvolvidas em cada uma também são diferentes. Por se tratar de uma praça central, próxima a vários estabelecimentos bancários e comerciais, prefeitura, ponto de ônibus, etc. a Praça Gal. Firmino de Paula apresenta como principal atividade “outros”, ou seja, local de passagem ou trabalho. Já a praça Gal. Rondon, localizada em um bairro residencial, com pouco trânsito de veículos e pedestres, tem como principal uso o “lazer com a família”, demonstrando uma diferença grande no uso.

            Na Praça Gal. Firmino de Paula, as duas atividades mais desenvolvidas são conversar com “amigos” e “outros”, que compreende trabalho ou somente o uso como passagem pela praça, seguidos de “observar as pessoas”, “descansar / repousar”, “contemplar a natureza” e “caminhar”. Na Praça Gal. Rondon, “contemplar a natureza” e “lazer com a família” foram as duas atividades mais desenvolvidas, seguidas de “tomar sol”, “conversar com amigos”, “descansar / repousar”, “trazer filhos para brincar” e “observar as pessoas”.

             As atividades “observar pessoas”, “caminhar”, “conversar com amigos” e “ler / estudar” obtiveram número de respostas muito próximas, se comparada uma praça com outra, o que demonstra que tais atividades não sofrem influência da localização, nem do entorno. Nas demais atividades, há uma disparidade muito grande em cada atividade na comparação entre as duas praças. A atividade trazer “cachorro para passear” aparece em destaque na Praça Gal. Rondon, revelando que muitos usuários possuem cachorros, o que tem gerado um descontentamento por parte dos que não aprovam o uso da praça pelos animais.

            Os resultados dos questionários revelam que a grande maioria das pessoas frequenta a praça com amigos ou familiares, e que o número de pessoas que vão sozinhas é muito pequeno, confirmando a função social do espaço.  A Praça Gal. Firmino de Paula possui uma diversidade em relação ao local onde residem seus usuários, que são tanto do centro (15%) quanto de várias partes da cidade (85%). A Praça Gal. Rondon possui um raio de atuação mais restrito, recebendo pessoas que residem, em sua maioria, no próprio bairro (61%) onde está localizada a praça, os demais usuários residem ou no centro (21%) ou em bairros vizinhos (18%) ao Bairro Lizabel.

            No item qualidade da praça os usuários revelaram estar satisfeitos com o tamanho da praças, tamanho do playground, tamanho da quadra de esportes, quantidade de árvores, quantidade de áreas de sol e sombra e até bons percentuais no que diz respeito ao barulho / ruído e conforto no inverno na Praça Gal. Firmino de Paula, enquanto que na Praça Gal. Rondon todos estes itens foram avaliados positivamente. Ambas as praças obtiveram expressivos percentuais negativos no que diz respeito à quantidade de lixeiras e quantidade e conforto dos bancos. As pessoas sentem necessidade de melhorar o ambiente que frequentam e isso se refletiu no percentual de respostas positivas para essa questão, que nas duas praças foi muito parecido (85% e 82%).

            No item manutenção e conservação os usuários revelaram um baixo grau de satisfação em todos as questões, com resultados negativos bastante claros e contundentes, que confirmam a análise física destes espaços.

            Apesar dos percentuais positivos com relação à segurança nas praças, a sensação que prevalece é a de insegurança, com percentuais na mesma proporção e até, muitas vezes, maior. A satisfação dos usuários em relação à aparência da praça é mais baixa na Praça Gal Firmino de Paula em relação à Praça Gal. Rondon que obteve mais de 70% das respostas positivas. Mas quando se trata da aparência dos bairros, o grau de satisfação do usuário é alto nas duas praças. Em relação ao perfil dos usuários, eles são muito semelhantes nas duas praças, tanto em grau de escolaridade quanto à faixa etária.

 

Considerações finais

Observando a evolução do meio urbano, muitas foram as transformações das praças observadas em Cruz Alta, verificando que não é necessário que uma praça seja histórica ou monumental para ser importante para a cidade. Percebe-se que a função social da praça permanece até os dias de hoje, como lugares de encontros e manifestações públicas não interessando o estilo e a forma que ela tenha. A praça desenvolve um papel importante na cidade, é um espaço que abriga as mais diversas atividades, um endereço para encontros, para as festividades, um símbolo para a comunidade, enfim, um local facilmente acessível para a realização das mais variadas funções.

            Constata-se que na região central a praça é maior e mais relevante, demonstrando que existe um planejamento preocupado em estruturar a malha urbana com qualidade espacial. Já a praça existente no bairro apresentara um planejamento deficiente. A manutenção, os equipamentos e a vegetação também se mostram ineficientes e com diversos problemas nas praças vicinais, que acabam não cumprindo seu papel enquanto área de lazer e convívio social urbano. Pode-se assumir que essa correlação entre a localização urbana e as deficiências que os espaços verdes vicinais apresentam são o resultado da despreocupação do poder público com os bairros mais afastados do centro e de seus próprios vizinhos, que não reivindicam seus direitos de cidadãos. 

O questionário aplicado aos usuários revelou que o grau de satisfação dos mesmos é maior na Praça Gal. Rondon, onde as pessoas demonstraram um apego afetivo-emocional maior que na Praça Gal. Firmino de Paula. Também foi revelado que a grande maioria das pessoas frequenta a praça com amigos ou familiar, confirmando a função social do espaço. Através das questões levantadas foi possível identificar problemas pontuais quanto ao mobiliário urbano, posição dos bancos, local de canteiros e até mesmo ideias para modificações no contexto geral da praça.

            As praças General Firmino de Paula e General Rondon atingem sua função enquanto elementos de qualificação urbana, porém não estão sendo consideradas pelo poder público como tais, não estão sendo planejadas e administradas para tal. As praças da cidade necessitam de um estudo aprofundado que valorize e resgate sua importância para a cidade e seus habitantes, com um planejamento desde sua localização dentro do bairro, até um projeto arquitetônico e paisagístico embasado e detalhado que venha atender os anseios dos usuários, levando em consideração o contexto em que está inserida e o perfil das pessoas que utilizam o local e seus equipamentos.

            Como nota-se as praças contribuem para promover a consciência de preservação do meio ambiente, além de melhorar a ambiência urbana das cidades, o que torna cada vez mais importante a visão e capacitação dos profissionais que trabalham nessas áreas. É através da praça que a natureza é constituída no espaço construído e a população desenvolve um apego emocional com a cidade. No que se refere as relações entre praça x usuário, a frequência e permanência dos usuários, está diretamente ligada à qualidade dos equipamentos e infraestrutura urbana da praça, porém, o fator natureza tem primazia, uma vez os usuários associam praça com preservação e contemplação da natureza.

A praça sempre será um símbolo, um marco, dentro da comunidade e do espaço urbano de uma cidade. Os resultados do presente trabalho devem ser usados com direcionadores de planejamento e outras pesquisas e estudos de caso dentro desse contexto, visando melhorar a qualidade das praças e da vida urbana.

Referencias

 

CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Caderno Cedes, Campinas / SP, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio. 2005.

 

CORREA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 2004.

 

COSTELLA, Andréia Bairros et al. Importância e valorização de espaços públicos: um olhar para a praça Adil Alves Malheiros – Panambi / RS. In: Seminário Interinstitucional de Pesquisa, Ensino e Extensão, XXI., 2016, Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ. Anais Seminário Interinstitucional de Pesquisa, Ensino e Extensão... Cruz Alta / RS: [s.n.], 2016. p. 1-10.

 

DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingues et al. Praças: História, Usos e Funções. Editora da Universidade de Maringá, Paraná, 2005.

 

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade pessoal. Oeiras, Celta, 1997.

 

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LOFLAND, L. H. A world of strangers: order and action in urban public space. Ilinois, Waveland Press, 1985.

 

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