01/11/2009
ANO IX - N ° 6 NOVEMBRO / DEZEMBRO 2009
Editor
Mauro Kleiman
Publicação On-line
Bimestral
Comitê Editorial
• Mauro Kleiman
• Márcia Oliveira Kauffmann
• Maria Alice Chaves Nunes Costa
• Viviani de Moraes Freitas Ribeiro
IPPUR / UFRJ
LABORATÓRIO REDES Urbanas
LABORATÓRIO DAS regioes metropolitanas
Coordenador Mauro Kleiman
Equipe
De Aline Alves Barbosa da Silva, Carolina Rezende Kroff, Simara Guzzo Elias,
Priscylla Conceição Guerreiro dos Santos
Pesquisadores Associados
Audrey Seon , Humberto Ferreira da Silva, Márcia Oliveira Kauffmann , Maria
Alice Chaves Nunes Costa, Viviani de Moraes Freitas Ribeiro. Vinícius
Fernandes da Silva
Artigo
" Apagões "como constante não Território do Rio de Janeiro : ha Algo de Errado Na concepção de Rede de Energia Elétrica
" Apagões "como constante não Território do Rio de Janeiro : ha Algo de Errado Na concepção de Rede de Energia Elétrica
Mauro Kleiman
Uma rede de infra-estrutura tem determinadas propriedades que lhe torna um dos principais elementos do território urbano-metropolitano contemporâneo. A rede deve ser conexa, pois que propicie a articulação de todos os elementos da cidade, de maneira múltipla, e independente de grandeza, forma e natureza jurídica politico-administrativa destes elementos; o fluxo de matéria que circula em seu interior ou sobre ele deve estar livre dos obstáculos e entraves para que a circulação seja livre e veloz; deve ter caminhos alternativos para no caso de bloqueios o fluxo não se interromper; deve ter capacidade nodal para um número ilimitado de possibilidades de articulações; e necessita de ter adaptabilidade no tempo e no espaço, ou seja, ser capaz de atender tanto a um só elemento como a todos os elementos do território, 24 horas ao dia 365 dias ao ano, e ser capaz de agregar constantemente aumento de clientes e carga demandada, e extensividade de atendimento seja pelo crescimento periférico, seja verticalizado ou densificado da cidade.
Tomando estas propriedades básicas das redes de infra-estrutura e detendo-nos nos recentes “apagões” no território brasileiro que deixaram sem luz 60 milhões de pessoas; e aqueles que atingem com intermitência o Rio de Janeiro em novembro de 2009, podemos pensar que de todo há algo de errado na concepção a rede elétrica.
Esta rede é aquela mais fundamental para a interdependência necessária e obrigatória entre todas as redes de infra-estrutura, pois funciona como base para aquelas ligadas a habitabilidade – água/esgoto, iluminação residencial, e para apoio a indústria, e comércio; e aquelas ligadas a circulação – viária, ferroviária, metroviária. Sem a rede base de energia elétrica as demais, na sua falta, imediatamente em seguida começam também a parar. Isto porque é a energia elétrica que impulsiona a água por meio de elevatórias movidas a bombas elétricas para toda a vasta extensão das metrópoles atuais, e as bombeia para a verticalização de seus prédios; empurra o esgoto até as estações de tratamento; comanda semáforos; fornece energia para as fábricas; para o comércio; serviços; e mais ainda agora para as comunicações pela internet; impulsiona trens...
De modo que quando a distribuição de energia está ausente ou apresentam falhas tornando-se precária, o território, em suas várias escalas, “desaba”. Todas as nossas atividades sócio-cotidianas e econômicas estarão imediatamente, e com repercussões no tempo e no espaço, paralisadas ou no mínimo prejudicadas.
A primeira evidência mais forte de que algo está prejudicado na concepção mesma de rede de energia elétrica está na questão de propriedade da adaptabilidade. Basta ver a justificativa da Light sobre o “apagão” no Rio de Janeiro, onde a empresa atribuiu ao aumento de consumo por conta das altas temperaturas, e ao aumento de carga na rede pelo crescimento de aparelhos eletrodomésticos nas casas dos clientes (O apagão da Light. O Globo, 25/11/09). Ora, a rede de energia elétrica tem que estar dimensionada e preparada para atender seja a uma pessoa que queira ligar seu ar-condicionado, seja aos 11 milhões de habitantes de metrópole do Rio de Janeiro que queiram ligar o aparelho juntos no mesmo horário. A rede deveria estar também dimensionada para atender acréscimo de carga, pois a cada período isto tende a ocorrer dado a maior disponibilidade no mercado de produtos eletrodomésticos para o lar, a facilidade de crediário para sua aquisição, uma relativa melhoria de renda das camadas populares no país, etc. Nada disto é uma surpresa, pode ser e deveria ser acompanhado pelos técnicos da empresa.
A rede não estar dimensionada para uma elasticidade necessária numa grande metrópole revela que a concepção de adaptabilidade não está bem elaborada. E não está bem elaborada possivelmente não por falta de conhecimento ou elementos técnicos para tal, e sim por investimentos que não foram feitos devidamente para preparar a rede para um atendimento mais amplo, ou para não engajar recursos nesta adequação a novas situações de crescimento de demanda e carga. A própria empresa Light admitiu depois de vários dias de “apagões” em bairros do Rio de Janeiro estar trabalhando “no limite”. (O Globo, 28/11/09)
Estando a propriedade da adaptabilidade fragilizada, neste caso da rede de energia elétrica do Rio de Janeiro, todas as outras propriedades tendem a colapsar ou apresentar precariedades. Assim, não se consegue ter conexidade para articular devidamente todos os pontos da cidade metrópole, e o fluxo de matéria no interior de rede não circula e/ou encontra bloqueio em alguns pontos causando “apagões” em determinadas áreas ou bairros.
O problema repetiu-se em vários bairros da metrópole, mas sua repercussão mais importante só aconteceu quando atingiu áreas de renda alta, como Leblon e Ipanema. Contudo, problemas na distribuição de energia podem ser observados desde há muito tempo, e repetidas vezes na Zona Oeste (principalmente em Jacarepaguá), Baixada Fluminense e Subúrbios, onde se tem “apagões” constantes há muitos anos, alguns durando mais de 24 horas, outros de quatro até 13h!!! Observam-se também constantes “picos de luz” nestas áreas, ou seja, a luz apagando e acendendo em questões de segundos causando panes, às vezes irreparáveis, em eletrodomésticos. Ou seja, não é de agora que a rede de energia elétrica tem mostrando fragilidade de conexidade e adaptabilidade, mais somente quando atingiu área de maior renda que “ilumina-se” a situação das áreas de menor renda onde o problema tem atingido a vida cotidiana de milhões de habitantes. Quando as pessoas que habitam as áreas populares da metrópole reclamam a empresa costuma utilizar dos mesmos argumentos de demanda excessiva, uso exagerado de aparelhos eletrodomésticos, utilização de energia por todos em um mesmo horário...sempre procurando repassar aos clientes a culpabilidade por uma responsabilidade que é sua, pois a concepção que pratica como rede está equivocada, ou falseada pelo objetivo de lucro, ao invés do serviço de qualidade que deveria prestar.