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Chão Urbano

Chão Urbano ANO XV - Nº2 MARÇO/ABRIL 2015

03/06/2015

Integra:

                   ANO XV – N° 2 MARÇO/ABRIL 2015

 

Editor

Mauro Kleiman

Publicação On-line

Bimestral

Comitê Editorial

Mauro Kleiman (Prof. Dr. IPPUR UFRJ)

Márcia Oliveira Kauffmann Leivas (Dra. em Planejamento Urbano e Regional)

Maria Alice Chaves Nunes Costa (Dra. em Planejamento Urbano e Regional) - UFF

Viviani de Moraes Freitas Ribeiro (Dra. Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ)

Luciene Pimentel da Silva (Profa. Dra. – UERJ)

Hermes Magalhães Tavares (Prof. Dr. IPPUR UFRJ)

Hugo Pinto (Dr. em Governação, Conhecimento e Inovação, Universidade de Coimbra – Portugal)

Editor Assistente Júnior

Carla Caroline Damasceno Lopes

IPPUR / UFRJ

Apoio CNPq

 

LABORATÓRIO REDES URBANAS

LABORATÓRIO DAS REGIÕES METROPOLITANAS

Coordenador Mauro Kleiman

Equipe

 Carla Caroline Damasceno Lopes, Flávia Garofalo, Gizele da Silva Ribeiro, Larissa Ling Gonçalves Setianto.

Pesquisadores associados

André Luiz Bezerra da Silva, Audrey Seon, Humberto Ferreira da Silva, Márcia Oliveira Kauffmann Leivas, Maria Alice Chaves Nunes Costa, Viviani de Moraes Freitas Ribeiro, Vinícius Fernandes da Silva, Pricila Loretti Tavares. 


ÍNDICE

Belém. PA: mudanças na urbanização da metrópole amazônica

 

Rodrigo Fraga Garvão e Rosália do Socorro da Silva Correa ..........................p. 3

 

TAV RIO – Campinas: Desenvolvimento regional através de mobilidade interurbana sustentável

Alline Margarett da Mota Serpa ...................................................................... p.11

  

BELÉM. PA: mudanças na urbanização da metrópole amazônica

Rodrigo Fraga Garvão[1]

Rosália do Socorro da Silva Correa[2]                                              

Resumo:

Este artigo trata, de forma breve sobre as transformações no espaço físico e social que a cidade de Belém sofreu, nos últimos dez anos, em decorrência da rápida urbanização, visto que o processo de verticalização inerente às grandes cidades, das mais diversas regiões brasileiras, hoje aparece como principal elemento de diversificação espacial na Amazônia. O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica com base em autores conceituados como Mike Davis, Ana Carlos Fani, Octavio Ianni entre outros.

Palavras chave: Belém. Verticalização. Segregação. Amazônia.

Abstract:

This article deals briefly on the changes in the physical and social space that the city of Bethlehem suffered in the last ten years due to rapid urbanization, since the process of vertical integration inherent to large cities, from different Brazilian regions, today appears as the main spatial diversification element in the Amazon. The study was based on a literature review based on renowned authors such as Mike Davis, Ana Fani Carlos Octavio Ianni and others.

Keywords: Belem. Vertical integration.  Segregation. Amazon

1 INTRODUÇÃO

As discussões acadêmicas em torno do conceito de espaço urbano fazem parte de reflexões importantes para a compreensão da sociedade contemporânea. O espaço urbano atrela-se ao entendimento da dominação política, e isso impõe uma lógica formal e uma racionalidade à cidade, um acúmulo de capital que dá formas para que o concreto e o abstrato sejam metamorfoseados, produzindo o lugar (na cidade). Esta produção se dá a partir da deterioração de ideologias, valores e identidades, ou a partir da busca de uma mudança para entender o espaço-tempo das sociedades modernas.

Assim, os seres humanos associam a ideia de qualidade de vida a uma sociedade dinâmica e capitalista. No entanto, apesar desses espaços urbanizados gozarem de “ares modernos” com uso de tecnologias aplicadas à prática de uma vida cotidiana, muitas dessas tecnologias podem trazer problemas pontuais que se tornam entraves para a organização desses espaços. Problemas estes, explicados pela segregação social, cultural, ambiental, verticalização intensa em algumas regiões, construção de enclaves fortificados, entre outros.

Nesse sentido também, pode-se pensar acerca do aumento da violência nos espaços urbanos, o que provocou uma reorganização social desses

espaços, forçou a busca de novas estratégias de vida nas cidades brasileiras e também estimulou a construção de novos arranjos que se adaptassem a uma forma de vida preventiva no que se refere à segurança.

Santos (2002) afirma que em cada período histórico observa-se um novo arranjo de objetos situados num determinado sistema de técnicas que possibilitam o surgimento de novas formas de ações.

A cidade enquanto construção humana, produto social, trabalho materializado, apresenta-se enquanto formas de ocupações. O modo de ocupação de determinado lugar da cidade se dá a partir da necessidade de realização determinada ação, seja de produzir, consumir, habitar ou viver. (CARLOS, 1992, p.45).

A cidade pode ser compreendida como um conjunto de objetos técnicos materiais, rede viária, edifícios, parques, praças, shopping centers, dentre outros. Seu entendimento engloba os conhecimentos dos indivíduos que a projetaram e a construíram. Segundo Carlos (1992) a cidade nada mais é que uma obra humana, e que são dados valores, que irão acarretar em diferentes efeitos, entre eles está o processo de segregação sócio espacial da sociedade.

O sentido de “espacialidade” associado ao de “propriedade” se torna cada vez mais significativo para as sociedades modernas. A sociedade passa a entender que há necessidade de restringir seus espaços de convivência, bem como suas relações pessoais, isso afetará diretamente o cotidiano de outras pessoas, ocasionando naquilo que chamamos de segregação social. Uma política de apropriação do solo, particularizando o espaço urbano tende a afastar as pessoas, levando a separação por grupos sociais.  Assim Carlos (2001) entende que o fenômeno da raridade se concretiza pela articulação de três elementos indissociáveis: a existência da propriedade privada do solo urbano, a centralidade da área e o grau de ocupação (índice de construção) da área no conjunto do espaço da metrópole.

O sentido daquilo que entendemos por urbano aumenta as dimensões do conceito de cidade por estar diretamente relacionado à ideia de modernidade. Santos (1992) diferenciou a “cidade” do “urbano” afirmando que a cidade é o concreto, o conjunto de redes, concluindo que é a materialidade visível do urbano, enquanto este é o abstrato, porém é o que dá sentido e natureza à cidade. Portanto o que se pode inferir desta distinção/ aproximação é que cidade e urbano se interligam.

Quando se trata de espaço urbano constatamos que sua existência não seria possível sem os grupos humanos que lhe dão sentido. É através de ações desses grupos que se criam os objetos técnicos e, é partir dessa relação intrínseca entre ações e objetos, que a sociedade pode alcançar o que se esconde e o que motiva as transformações no/do espaço em tempos de uma sociedade em rede.

2       BELÉM DO PARÁ: O CRESCIMENTO DE UMA METRÓPOLE AMAZÔNIDA

A cidade de Belém, capital do estado do Pará está entre as principais cidades da Amazônia brasileira. No passado, consolidou-se por uma forte economia da borracha, o que a tornou uma das mais importantes da região. A cidade está perto de completar quatrocentos anos e, atualmente é uma das maiores aglomerações urbanas na Amazônia, com população estimada em 1.432.844 de habitantes (IBGE, 2014). 

Em função da crescente economia do estado do Pará, nas áreas da agricultura, comércio e mineração, a capital paraense passou a atrair um significativo número de imigrantes para viver e trabalhar na cidade. O constante crescimento da região favorece investimentos em transportes, educação, saúde e, consequentemente, infraestrutura como construção de shoppings, indústrias, portos e terminais de carga. Com isso percebe-se que localidades consideradas no passado como “distantes” exemplificando o distrito de Icoaraci, Mosqueiro, Outeiro e as cidades de Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Izabel passaram a fazer parte da malha urbana.

Assim, a grande Belém se tornou uma cidade em processo de mudanças em sua paisagem de forma gradativa, trazendo um contexto de verticalização intensa nos últimos anos. As distâncias diminuíram e cada vez mais pessoas passaram a habitar nas cidades circunvizinhanças de Belém. Atualmente a capital paraense passa por um processo de valorização do espaço, em virtude de uma “agressiva” urbanização da cidade, principalmente pela intensa especulação imobiliária, o que faz a cidade enfrentar dias de estrangulamento espacial. Carlos (1992) explica que o valor de uso é o sustentáculo conceitual do tratamento geográfico dos problemas de uso do solo. Todavia, a teoria do uso do solo urbano deve ser analisada a partir da teoria do valor, fundamentada na unidade entre valor de uso e valor de troca.  

Com isso, a malha urbana de Belém passa a ser “disputada” por empresas de construção civil, com objetivo de investirem em novos conceitos de moradia para a população. As áreas de maior valorização concentradas no centro da cidade se tornam supervalorizadas e o território urbano belenense sofre um processo intenso de “elitização” espacial.

As construções imobiliárias de alto padrão “empurram” o morador local para fora desta área de investimento, pois os antigos proprietários, dentre eles muitos herdeiros, acabam vendendo suas propriedades e saem para localidades de menor especulação imobiliária. Observa-se assim como é atingida a vida cotidiana dos que habitam o local, e como esse processo de intervenção e transformação espacial não ocorre sem consciência espacial dos moradores locais.

Como consequência dessa mudança do cenário de Belém há um aumento, em ritmo acelerado, das periferias. Contudo a vida  nas áreas periféricas mantém atitudes genuínas, a exemplo das brincadeiras nas ruas e à beira dos rios que cortam a cidade, além das relações de vizinhança, muito comum nas periferias. Mas, ao lado disso, existem também situações que indicam a permanência, nestas áreas, da criminalidade urbana pela prática de assaltos, homicídios, tráfico de drogas, e outras modalidades de crimes, o que ainda é alvo da combatida associação entre crime e pobreza.

Percebe-se algumas iniciativas do governo de entretenimento cultural como espaços de lazer e prática de esporte, construção de quadras poli esportivas, teatro em espaços abertos, feiras e como consequência vemos a identificação de lugares que são recortados do conjunto urbano da capital paraense e passam a receber investimentos por parte do governo local a fim de atrair investimentos da iniciativa privada.

Velho (1989) evidenciou como o espaço social se reifica no espaço físico. Ou seja, o mapa da cidade passa ser um mapa social onde as pessoas se definem pelo lugar em que moram. Isso demostra a questão do prestígio e do status que acompanha o processo de hierarquização e verticalização dos bairros e que define os moradores desses. Nesse processo, o mapa social da cidade de Belém vem se transformando. Novas fronteiras simbólicas são construídas sobrepondo-se ou apagando as já consolidadas. Diante desse quadro analítico percebe-se os sistemas classificatórios que operam nessa organização espacial, como os moradores da cidade constroem essas fronteiras e transitam entre elas.

Nesse processo de identificação, recorte e separação de lugares específicos dentro do conjunto urbano de Belém, observa-se um destaque econômico de determinadas áreas da cidade sendo acompanhada por uma valorização simbólica. Um caso emblemático são os bairros ao longo da Avenida Augusto Montenegro, região que por décadas passou ao largo dos investimentos estatais em infraestrutura. Outrora identificada como polo de fábricas diversas, atualmente, foi transformada em um destino de moradia de grande parcela da população belenense, recebendo altos investimentos da “parceria público-privada”. No bojo desse processo, a avenida desponta como região de uma nova elite da cidade, com infraestrutura que atende parte da demanda local.

Com isso, os moradores atuais passaram a residir em uma região altamente valorizada pelo mercado imobiliário e os antigos moradores, diante dessa valorização local sofrem um constrangimento econômico, o que lhes faz procurar outros lugares para morar. A mudança da condição infra estrutural do local; a forma como vai ser habitado e os novos moradores são elementos que agora valorizam a área antes discriminada social e economicamente. Entretanto, ao lado disso os antigos moradores buscam bairros periféricos da cidade, por vezes estigmatizados pela pobreza e violência, como citado anteriormente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos em uma sociedade que valoriza a tecnologia, a globalização, o espaço virtual e a supervalorização do econômico, diante de tudo isto, tenta-se entender qual é o papel do lugar, ou seja, da vida, do cotidiano, da rotina humana?

Em um contexto global de urbanização em ascendência e de fortes transformações no espaço das cidades, destacam-se os processos peculiares à dinâmica das grandes cidades brasileiras, que modificam significativamente sua configuração, promovendo quebras no tecido urbano consolidado, e nas práticas de apropriação e uso desse espaço, comprometendo sua sustentabilidade.

O processo de verticalização acentuada que vem ocorrendo nos últimos tempos na capital paraense tem confrontado os interesses das diferentes classes envolvidas, tais como empresários da construção, moradores dos bairros mais esmagados pelas novas edificações, movimentos ambientalistas, gestores públicos entre outros. Nessa perspectiva, este trabalho pretende contribuir para ampliar o conhecimento acerca dos impactos da verticalização e adensamento na qualidade do espaço de Belém, subsidiando o debate acerca da proposição de padrões urbanísticos e do modelo espacial de desenvolvimento da cidade, conhecida como metrópole da Amazônia.

Conclui-se que a verticalização, assim como outras formas urbanísticas ou geográficas necessitam de pesquisas constantes visto ser um processo que está inscrito no espaço, que é constantemente transformado  e modificado, mas também no tempo, pois o processo de produção e reprodução do espaço é muito dinâmico.

REFERÊNCIAS

CARLOS, Ana Fani. A Cidade. São Paulo: Contexto, 1992.

________________. Espaço-Tempo na Metrópole. São Paulo: Contexto, 2001.

CLARK, D. Introdução à Geografia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.

COSTA, W. C. A bomba suja: crise, corrupção e violência no Maranhão contemporâneo (2004-9). In: Boletim da Conjuntura Regional NE 5 (CNBB). São Luís: Abril, 2009.

DAMIANI, Amélia Luísa. As Contradições do Espaço: Da Lógica (Formal) à (Lógica) Dialética, a Propósito do Espaço. In: CARLOS, A. F. A.; DAMIANI, A. L.; SEABRA, O. C. L. (Org.). O Espaço no fim de século: a nova raridade. São Paulo: Contexto, 2001a, p. 48-61.

DAVIS, Mike. Planeta Favela. São Paulo: Edições Boitempo, 2006.

DINIZ, J. S. As Condições e Contradições no Espaço Urbano de São Luís (MA): Traços

Periféricos. In: Ciências Humanas em Revista. Núcleo de Humanidades, São Luís, 2007. v. 5, n. 1. p. 167 - 180.

 

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010.

IANNI, Octavio. Estado e Planejamento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,2010.

IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: . Acesso em 05 de Dezembro de 2014.

_____ Censo Demográfico 2014. Disponível em: . Acesso em 05 de Dezembro de 2014.

https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/estatisticas/, Acesso em 06 DE Dezembro de 2014.

SANTOS, Milton. A Cidade e o Urbano como Espaço-Tempo. In: CIDADE & HISTÓRIA. Modernização das Cidades Brasileiras nos Séculos XIX e XX. UFBA - FAU/MAU. Salvador, 2002.

VELHO, Gilberto. A Utopia Urbana: um estudo de antropologia social. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1989.



[1] Mestrando em Desenvolvimento urbano e meio ambiente – UNAMA

 

[2] Doutora em Sociologia – UFPB. Professora e pesquisadora da Universidade da Amazônia-UNAMA

 

 

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